As traduções de Freud
“Temos a melancólica oportunidade de ver um escritor
do porte de Freud falando como um personagem de filme dublado de televisão,
cometendo erros crassos de português, usando uma linguagem retorcida e pedante,
assumindo incoerências teóricas e às vezes fazendo afirmações inteiramente sem
pé nem cabeça” palavras de Marilene Carone
A obra de Freud passou a fazer parte do domínio
público e desta forma, novas traduções irão aparecer no mercado. A revista Cult
fez uma belíssima matéria sobre as traduções que irão ocorrer (e que já vem
ocorrendo) no Brasil e também fora daqui.
Luiz Hanns: se preocupa em recriar a atmosfera do
alemão de Freud. Contratado pela Imago, ainda antes da obra cair em domínio
público, o autor do “Dicionário comentado do alemão de Freud” traduziu três
volumes (aqueles de capa marrom) para a editora com extremo rigor, talvez
porque, dentre outras coisas, Hanns é psicanalista.
Paulo César de Souza, autor do livro “As palavras de
Freud”, é o responsável pelas edições da editora Companhia das Letras, uma
coleção feita em capa dura colorida, um volume azul, outro vermelho, e assim
por diante. Diferentemente de Hanns, Paulo César não é psicanalista, muito pelo
contrário, pois afirma não acreditar na eficácia da psicanálise. Seu interesse
está no “escritor” Freud e não no “psicanalista” Freud, deixando sua tradução “mais próxima do texto fonte”.
Renato Zwick, faz parte da empreitada da editora
L&PM, que não têm o objetivo de lançar “obras completas”, mas sim volumes
independentes e em formato de “bolso”. Os textos mais visados desta
coleção são àqueles considerados “sociológicos”, porém recentemente foi publicado o principal trabalho de Freud “A interpretação dos
sonhos”, um trabalho que direciona a Psicanálise para os caminhos da
Metapsicologia (vide o famoso capítulo sete).
Marilene Carone traduz para a editora Cosac Naify um
livro luxuoso, indo na direção oposta da L&PM, que oferece um livro mais
barato e de qualidade gráfica inferior. Até então o único volume publicado é do
trabalho “Luto e melancolia”, contendo não somente o texto de Freud, mas também
ensaios de psicanalistas comentando o trabalho.
Pedro Heliodoro Tavares, contratado pela Editora
Autêntica, se dedica na tradução do que se chamará “Obras incompletas de
Sigmund Freud’. De acordo com Tavares, o tradutor deve “escutar o texto”.
Adam Phillips mais uma vez utiliza sua criatividade (basta ler os livros de Phillips, como “Louco para ser
normal”, ou, o que é, na minha opinião o melhor livro para introduzir
Winnicott, escrito por Phillips e que se chama simplesmente “Winnicott). Sua
proposta é a de utilizar diversos tradutores e deixar a experiência de cada
auxiliar na tarefa: “eu queria pessoas que não estivessem tão enredadas pela
psicanálise ou que estivessem enredadas por outras coisas. E que fossem pessoas
habituadas a ler e interpretar textos, e não apenas estuda-los e usá-los como
manuais de instrução”.
Para saber mais: Revista Cult n. 181
Embora tenha cotejado apenas duas ou três traduções de alguns dos livros de Freud, tenho a nítida impressão de que o trabalho de Paulo Cesar de Souza - o "incréu" - é o melhor. Ao menos em relação a coleções "clássicas" não tenho qualquer dúvida a respeito. A clareza dos textos e a forma correta com que conceitos são descritos me levam a pensar que a eventual incredulidade não atrapalhou a migração ao português - ao contrário, ajudou. Freud sempre foi tido como excelente escritor, mas as traduções mais antigas têm texto confuso e normalmente desagradável que levam a crer justo no contrário.
ResponderExcluirAbs
Mauricio