quinta-feira, 1 de agosto de 2013

As traduções de Freud

As traduções de Freud
“Temos a melancólica oportunidade de ver um escritor do porte de Freud falando como um personagem de filme dublado de televisão, cometendo erros crassos de português, usando uma linguagem retorcida e pedante, assumindo incoerências teóricas e às vezes fazendo afirmações inteiramente sem pé nem cabeça” palavras de Marilene Carone
A obra de Freud passou a fazer parte do domínio público e desta forma, novas traduções irão aparecer no mercado. A revista Cult fez uma belíssima matéria sobre as traduções que irão ocorrer (e que já vem ocorrendo) no Brasil e também fora daqui.
Luiz Hanns: se preocupa em recriar a atmosfera do alemão de Freud. Contratado pela Imago, ainda antes da obra cair em domínio público, o autor do “Dicionário comentado do alemão de Freud” traduziu três volumes (aqueles de capa marrom) para a editora com extremo rigor, talvez porque, dentre outras coisas, Hanns é psicanalista.
Paulo César de Souza, autor do livro “As palavras de Freud”, é o responsável pelas edições da editora Companhia das Letras, uma coleção feita em capa dura colorida, um volume azul, outro vermelho, e assim por diante. Diferentemente de Hanns, Paulo César não é psicanalista, muito pelo contrário, pois afirma não acreditar na eficácia da psicanálise. Seu interesse está no “escritor” Freud e não no “psicanalista” Freud, deixando sua tradução “mais próxima do texto fonte”.
Renato Zwick, faz parte da empreitada da editora L&PM, que não têm o objetivo de lançar “obras completas”, mas sim volumes independentes e em formato de “bolso”. Os textos mais visados desta coleção são àqueles considerados “sociológicos”, porém recentemente foi publicado o principal trabalho de Freud “A interpretação dos sonhos”, um trabalho que direciona a Psicanálise para os caminhos da Metapsicologia (vide o famoso capítulo sete).
Marilene Carone traduz para a editora Cosac Naify um livro luxuoso, indo na direção oposta da L&PM, que oferece um livro mais barato e de qualidade gráfica inferior. Até então o único volume publicado é do trabalho “Luto e melancolia”, contendo não somente o texto de Freud, mas também ensaios de psicanalistas comentando o trabalho.
Pedro Heliodoro Tavares, contratado pela Editora Autêntica, se dedica na tradução do que se chamará “Obras incompletas de Sigmund Freud’. De acordo com Tavares, o tradutor deve “escutar o texto”.

Adam Phillips mais uma vez  utiliza sua criatividade (basta ler os livros de Phillips, como “Louco para ser normal”, ou, o que é, na minha opinião o melhor livro para introduzir Winnicott, escrito por Phillips e que se chama simplesmente “Winnicott). Sua proposta é a de utilizar diversos tradutores e deixar a experiência de cada auxiliar na tarefa: “eu queria pessoas que não estivessem tão enredadas pela psicanálise ou que estivessem enredadas por outras coisas. E que fossem pessoas habituadas a ler e interpretar textos, e não apenas estuda-los e usá-los como manuais de instrução”.

Para saber mais: Revista Cult n. 181






Um comentário:

  1. Embora tenha cotejado apenas duas ou três traduções de alguns dos livros de Freud, tenho a nítida impressão de que o trabalho de Paulo Cesar de Souza - o "incréu" - é o melhor. Ao menos em relação a coleções "clássicas" não tenho qualquer dúvida a respeito. A clareza dos textos e a forma correta com que conceitos são descritos me levam a pensar que a eventual incredulidade não atrapalhou a migração ao português - ao contrário, ajudou. Freud sempre foi tido como excelente escritor, mas as traduções mais antigas têm texto confuso e normalmente desagradável que levam a crer justo no contrário.
    Abs
    Mauricio

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